"Prá riba de mim, Deus pôde mandá o que ele quizé! O mundo é grande, marruêro!… Grande é o amô!… Grande é a fé!… Grande é o pudê de Maria, ispôsa de São José!… O Diabo, o Anjo mardito, foi grande!… Cumo inda é!! Mas porém, nada é mais grande, mais grande que Deus inté, que uma chifrada, marruêro, dos óio d’uma muiéü!" (Catulo da Paixão Cearense)
domingo, 10 de março de 2013
FRAGMENTO DO CABELEIRA
(Pernambuco)
-Fecha a porta , gente,
Cabeleira aí vem,
Matando Mulheres,
Meninos também.
Corram, minha gente,
Cabeleira aí vem,
Ele não bem só,
Vem seu pai também .
"Meu pai me pediu
Por sua benção
Que eu não fosse mole
Fosse valentão
Lá na minha terra,
Lá em Santo Antão,
Encontrei um homem
Feito um guaribão,
Pus-lhe o bacamarte ,
Foi pá, pai, no chão.
Minha mãe me deu
Contas para rezar,
Quem tiver seus filhos
Saiba-os ensinar
Veja o Cabeleira
Que vai a enforcar
............................
Meu pai me chamou
-Zé gomes, vem cá:
Como tens passado
No canavial?
Mortinho de fome.
Sequinho de sede,
Só me sustentava
Em caninha verdes.
-Vem cá, José Gomes,
Anda-me contar
Como te prenderam
No canavial?
Eu me vi cercado.
De cabos, tenentes,
Cada pé de cana
Era um pé de gente.
Cabeleira era o apelido do mestiço José gomes, turbulento e valente rapaz que espavoria os arredores do Recife e Goiana, acompanhador seu pai, Joaquim Gomes e Teodósio, matando, saqueando impunemente. Derribava a tiros de bacamarte as crianças que subiam aos coqueiros, apavoradas com sua presença.
Finalmente o capitão-mor Cristovão de Holanda Cavalcanti cercou-o num canavial do Engenho novo, em Pan d'alho ,prendendo-o. Cabeleira foi julgado e enforcado no largo das Cinco Pontas, quatro dias depois de lavrada a sentença, assim como seu pai e o companheiro Teodósio, em 1776. Depois de morto, por sua mocidade e as mostras de arrependimento e contrição nos últimos momentos de vida, Cabeleira teve muito dos crimes esquecidos e a musa popular, registando o com a crueza de sua veracidade, atenuava-lhe o temperamento , culpando o velho Joaquim Gomes como o excitador do mau gênio do filho. Fernandes Gama registou o fato na MEMÓRIAS HISTÓRICAS DA PROVÍNCIA DE PERNAMBUCO (IV,360,Pernambucana,1848) e Franklin Távova , 1842, 1888, publicou a vida romanceada do bandido,O CABELEIRA, Narrativa Pernambucana, Tip.Nacional, Rio de janeiro, 1876. Ver ainda Pereira da Costa,FOLCLORE PERNAMBUCANO,150.
- Nota de Luís da Câmara Cascudo.
Trecho extraído do livro Cantos populares do Brasil 1883, primeira livro publicado inteiramente de canções recolhidas do povo, de Sílvio Romero.
Em 1963 o livro de Franklin Távora que narra as desventura do bandido cabeleira ganhou adaptação para o cinema, o filme contava com elenco formado por Hélio Souto, Milton Ribeiro e Marlene França.
(Muitos consideram Cabeleira como o primeiro cangaceiro de que se teve conhecimento)
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